terça-feira, 25 de junho de 2013

O Ovo da Serpente



Na última semana, quando começaram as manifestações que hoje se espalham por todo país, fui pego de surpresa pelas mesmas. Já era hora de ir dormir, quando ao término de um filme, fiz como de costume e coloquei na Bandnews para acompanhar as últimas informações do dia antes de me recolher.
                Foi só então que me dei conta do que estava acontecendo, fiquei quase duas horas acompanhando os protestos e tentando entende-los, pensei muito, tive dificuldades para dormir, assumindo que estava enxergando o “ovo da serpente”, como aconteceu na Alemanha nazista quando o parlamento daquele país foi queimado e a culpa foi toda imputada aos comunistas que nada tinham com o evento, mas, que foi fundamental para a chegada de Adolf Hitler ao poder.
                Em plena copa das confederações, eu como fã apaixonado pelo futebol, Brasileiro e Corinthiano, mais um dos tantos técnicos espalhados pelo nosso país, busco acompanhar vários programas de esporte. A copa das confederações é analisada pela ESPN Brasil e sou fã do programa linha de passe, que durante esse período é transmitido diariamente às 21 horas. Qual não foi minha surpresa quando ao colocar no programa, percebi que os comentários naquele dia foram totalmente voltados para as manifestações que estavam acontecendo, os apresentadores estavam questionando os reais motivos das mesmas, sobretudo o quão eram difusos e difíceis de interpretar, porém ao mesmo tempo, assim como eu, enalteciam a capacidade de mobilização da sociedade brasileira, que há muito, já cobrava dos meus alunos uma postura mais presente.
                Fui “cara pintada”, participei de todas as manifestações que aconteceram no Brasil da década de 1980 em diante, fui sempre atuante na defesa do meio ambiente com o G.A.V. – Grupo de Ação Verde, sou, considero bastante politizado e procuro estar sempre informado, acho que por influência do meu pai. Mas, essas manifestações, me incomodavam muito, não conseguia encontrar um objetivo contundente para as mesmas.
                Em meio a fechamento de médias, bimestre e correções de prova, comecei a interpretar o que agora diariamente via na mídia, espalhado pelo país e tomando a cada novo protesto dimensões ainda maiores. Principiei, pegando todos os objetivos que ali estavam, espalhados de maneira bastante fluídas e sem direcionamento. Pedia – se redução das tarifas de ônibus em R$ 0,20; o fim da impunidade aos políticos corruptos deste país (tardia, diga – se de passagem); contra os exagerados gastos na copa das confederações e do mundo entre outros.
                Procurei nesses protestos uma bandeira, uma causa, mas não as encontrava, foi só aí, lá pelo terceiro dia de manifestações que comecei a entender o que se passava. Via nas ruas o que na história já em diversas ocasiões tinha acontecido. O povo sendo usado como massa de manobra política, mas pensava eu, para que? Qual o objetivo disso? Cheguei a comentar tudo isso com meus alunos, tanto da escola particular, como da rede pública em que leciono. Falei das minhas preocupações e que estava por assim dizer com a “pulga atrás da orelha”.
                Interpretando os sinais, que a cada dia me pareciam mais nítidos, cheguei à conclusão que estava sendo orquestrado um golpe de estado e muito mais para uma direita radical, privada que foi de seus direitos de enriquecimento e exploração sobre a classe trabalhadora nesse país nos últimos 20 anos, do que pela esquerda inerte que possuímos.
                Comecei, então ao ver as transmissões dos protestos e observar que algumas faixas e cartazes pediam o fim da copa das confederações e do mundo, respectivamente e soube aí que o perigo rondava as esferas políticas do país de maneira contundente. Ora, foram gastos mais de 28 bilhões de reais para a realização dos eventos, se era para eles não acontecerem, que em 2007 quando fomos escolhidos fossem feitas manifestações, cheguei a ouvir de um companheiro meu, professor, que só agora a população acordou. Como pode penso, será que as pessoas acharam mesmo que os eventos iriam ser organizados e não íamos ter que gastar nada para que fossem feitos?
                Agora que o rombo está feito, nada mais podemos fazer a não ser torcer para que estes eventos aconteçam de maneira pacífica, característica de nosso país, e que parte desse dinheiro, pois não sejamos ingênuos novamente de imaginar, sejam repostos na totalidade.
                Vamos por um instante apenas imaginar o que aconteceria se eles não se realizassem? Ao criarmos um clima hostil, onde a FIFA organização máxima do futebol entenda que não há condições de segurança para a realização dos eventos e os venha a suspender. Teremos em primeiro lugar um rombo nos cofres do estado proporcional aos valores gastos com os mesmos, o que por si só, tornaria o país ingovernável, mas não para por aí, teríamos ainda o caderno de encargos que faculta a FIFA o direito de cobrar financeiramente o país sede dos jogos, pela não realização dos mesmos, inclusive ressarcindo patrocinadores e a própria organização.
                Nesse momento, vejo plenas condições para a chegada ao poder de um partido ou grupo político de oposição que, no furor das manifestações que se tornariam muito mais sérias, ganharia condições para tanto. Portanto, entendo como muito delicado o momento atual. Penso um pouco como o Paulo Vinícius Coelho dos canais ESPN Brasil que lembrou esses dias ainda, que todo movimento tem que ter um vencemos, conseguimos, conquistamos a vitória. Pergunto – vos, qual é o vencemos deste movimento? Qual é o conquistamos a vitória, desse movimento? Justamente não há! Seus objetivos são tão difusos, que é difícil estabelecer o vencemos.
                Para finalizar, pouco antes de escrever este pego o jornal O Estado de São Paulo de hoje e leio uma matéria sobre grupos que convocam atos anticorrupção e defendem militares de volta ao poder. Página de política (A 16). Isso está se alastrando rapidamente sobre nossos olhares e poucas pessoas tem tido a condição de perceber o “Ovo da Serpente” já que é um movimento totalitário de extrema direita disfarçado de festa popular e solução imediata para a crise política instalada no país. Como, aliás, já é peculiar na história de todos os povos e nações deste lindo planeta azul.
                 Esperamos, eu e o grupo de pessoas que me acompanham estarmos errados, mas se não estivermos, então estão se criando, a passos largos condições, para que isso venha a acontecer, pode não ser hoje, nem amanhã, mas com o decorrer do tempo e nos próximos anos ficaremos sabendo que essas manifestações tinham uma ou mais de uma origem, e a partir dela e seus lideres um objetivo muito claro, porém, velado para que nem todos possam entender facilitando assim seu êxito.


André Luiz Flores, Professor de História na Rede Pública e Privada de Ensino

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